12 julho 2007

A fotografia e o plebeu

Este texto a seguir não é uma crônica como os textos mais abaixo, mas um ensaio intimista e histórico sobre minha tumultuada relação com a fotografia.

"Muito curiosamente, nos caminhos e surpresas que a vida nos traz, além de jornalista, queria ser um profissional ligado a música, um músico ou um dançarino. Minha paixão pela música sempre foi muito marcante em minha vida, tocando alguns anos piano e depois atuando como DJ. Era o sonho de minha vida. Um dia, procurando melhorar minhas habilidades, pedi a minha mãe que me trouxesse um teclado da Europa, numa de suas viagens. Imagine agora, que cômico, se sua mãe lhe trouxesse de uma viagem um teclado na mala apenas porque você quer se tornar um músico. Ela chegou de viagem com um presente um tanto quanto diferente, uma máquina fotográfica Minolta.

“Olhei para aquilo com desconfiança e desdém. “Uma máquina fotográfica? Mas o que eu vou fazer com uma máquina fotográfica?” Minha relação de amor e ódio com aquela caixa preta foi gradativamente se transformando em menos ódio e mais amor na medida que os anos se passaram. No início, tirava fotos por tirar, sem me importar muito com os resultados, e sem desfrutar dos recursos infinitos que as máquinas de lente intercambiável proporcionam. Sim, porque uma vez me disseram que o violão é o instrumento mais fácil para se errar. Assim também é uma máquina fotográfica com lente intercambiável, com seus numerosos recursos.

“Insistindo muito ainda na minha carreira como músico, uma vez resolvi tentar entrar para um coral. Durante o teste, o maestro me reportou que minha voz estaria mais para baixo. Falei para ele que achava melhor se eu fosse um tenor, ao que ele me retrucou que se ele pudesse também seria um jogador de futebol. Pensei comigo, um jogador de futebol? A última coisa da minha vida que eu queria ser era um jogador de futebol. Estava diante de uma pessoa que era tudo o que eu queria, mas que queria ser o que eu menos queria ser. Aquilo foi uma grande lição para mim. Hoje estou muito satisfeito com as imagens, fotografando os sons das cores.

“Se fotografia é luz, tudo começou a ficar literalmente claro alguns anos depois que ganhei a máquina quando fui para um belíssimo parque ecológico próximo a Juiz de Fora. Nesse mesmo ano tive a oportunidade de voltar à Chapada dos Veadeiros, desta vez com a máquina. Foi nesses dois parques ecológicos que a carreira se iniciou. Não tinha noção de minha aptidão, embora não costumo muito acreditar em dom puro ou nato. Não sabia que tinha uma visão elaborada para composição de cenas. Eu devo à natureza a história do início de minha carreira, ainda que eu tenha a compreensão de que a natureza humana esteja inserida no meio ambiente como um todo

“As fotos foram sendo cada vez mais elogiadas, e partindo-se para técnicas mais elaboradas, chegou-se a melhores resultados. Mas, o que torna um fotógrafo? E porque a fotografia é tão popular? Na minha visão a ótica do mundo faz um fotógrafo. O que o fotógrafo espera do mundo faz o fotógrafo. Se o fotógrafo enxerga apenas a simples beleza, ele será um fotógrafo da moda, um especialista. Se ele enxerga o mundo como várias partes de um todo, buscando a beleza simples, ele será um fotojornalista, fotografando o cotidiano. Se ele escuta o movimento das plantas e o rugir dos pumas, ele fotografará a natureza. Talvez a fotografia seja tão popular porque na verdade nós seres humanos temos medo da morte, do vir além, por isso seja mais fácil aceitar o presente congelado.

“Aceitando o presente congelado, minha experiência tem sido trabalhar como fotojornalista ambiental e social, e depois, desde Viçosa, a fotografia científica, tendo sido estágiário/técnico do Laboratório de Fotografia Científica do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Viçosa. Em 2002 me profissionalizei através do Sindicato dos Fotógrafos de Viçosa e em 2005 me sindicalizei.

“É preciso ter um olhar crítico para ser fotógrafo, mas isso não quer dizer que o olhar crítico faz do fotógrafo uma pessoa crítica com o mundo, mas com certeza com o universo ao seu redor, seja ele pequeno ou grande. Uma coisa é fato, as sucessivas invenções e descobertas da fotografia foram realizadas por gênios. Para ser um gênio basta não se conformar com a realidade. Um gênio é aquele que por exemplo olha para o cimento e o re-enxerga com curvas. Ou é aquele que olha para um disco de vinil e uma agulha de um toca discos e gira o disco ao contrário, produzindo uma nova música, um novo efeito, porque ele simplesmente não se conformou com o disco girando apenas para um lado. Ser um gênio significa simplesmente não se conformar com a realidade ao seu redor e produzir algo novo.
Esse conceito porém pode ser bastante limitador e os gênios bastante egoístas quando acham que seu trabalho é único ou quantos os idolatramos de uma forma excessiva. Há também uma falsa idéia do que é ser um gênio, e esse conceito deve ser compreendido de uma forma mais simples.

“A Missão— Na infância, fui acostumado a assistir aos programas de Jacques Cousteau*, cuja dedicação à ciência e à comunicação resultaram num dos maiores documentaristas acerca dos problemas pelos quais passa nosso planeta. Na época Cousteau foi muito criticado pelos cientistas por realizar filmes sobre ciência, popularizando-a. Seus críticos diziam que ele estava vulgarizando a ciência. De fato, para a população entender a ciência, a linguagem e os métodos científicos tem de ser muito simplificados. Desde cedo me perguntei porque não conseguia me formar em música ou comunicação. Hoje entendo que diante da megabiodiversidade do Brasil e os conflitos sociais há uma grande missão pela frente, tornar a ciência popular no Brasil, através da fotografia, disseminando o conceito de sustentabilidade e lutando contra os abusos do agronegócio e o extrativismo predatório. José Lutzemberg vive em nossas mentes, e até o fim de minha vida prometo lutar pelo primeiro regime verde do mundo.

“A Missão II— Uma vez consolidada minha carreira como fotógrafo, após terminar de pagar minha atual máquina fotográfica e montado meu estúdio fotográfico, a agência de crítica ambiental estará montada, objetivo adquirir duas câmeras de vídeo para filmar documentários. Atualmente tenho vários projetos cintematográficos em minha mente, alguns dos quais são bastante contemporâneos. Alguns já começam a se perder pelo limite do tempo das pessoas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bom Tarde amigo. Gostei muito de sua foto do prédio com o reflexo da luz vermelha. Gostaria de saber mais detalhes sobre sua câmera e sua lente?