05 dezembro 2008

ATENÇÃO: MEU BLOGUE TEM SIDO
ATACADO POR HACKERS. ALÉM DA
TARJA PRETA, TODAS AS FOTOS
FORAM SABOTADAS. SABEMOS
QUEM SÃO, ESTÃO SOB
INVESTIGAÇÃO
DA POLÍCIA
Este blog, inicialmente chamado de "The Nemetscek Experience" devido a minha forte ligação com a música, era uma intenção em fazer uma homenagem a Jimmy Hendrix, com sua banda "The Jimmy Hendrix Experience". Depois, então, resolvi abrasileirar o blog para "Nemetscek Br". Mas o que significa ou quem é/foi Nemetscek? Leiam o primeiro ensaio "Os Meninos da Rua Paulo", lá embaixo...

03 julho 2008

Nosso caminho não é o noroeste
Texto escrito em abril... e a luta continua...
" Tão longe, tão perto. A belíssima área onde ficaria o malfadado setor noroeste está tão perto de nós e não sabemos disso. Depois que fui lá com a Denise e Korubo, estava com muita fome, e fui num grande supermercado jantar. Acabando de sair de uma bela e ameaçada reserva e logo entrando no supermercado que fica tão próximo (a civilização fica próxima...) foi uma sensação tão estranha, instantaneamente estávamos na água e fui para o óleo, me sentindo um forasteiro alheio. Só me senti assim quando esse mesmo supermercado inaugurou alguns anos atrás. Já que este sempre seria 24 hs, fui conhecê-lo mesmo numa madrugada. Morando na mesma rua desde 1975 me senti um peixe do cerrado fora d'água dentro daquele invasivo novo supermercado. O texto abaixo foi enviado recentemente para algumas listas de discussão.

“Estivemos novamente hoje no 'Setor Noroeste', continuando com o trabalho fotográfico. Incrível que hoje havia dois carros do CorreioWeb andando de um lado para o outro. Korubo, o índio que nos acompanhou disse que o Correio tem tentando falar com eles, os índios, desde ontem. O carro deles chegou a entrar dentro da área indígena. Hoje o terreno indígena está trancado com cadeado, e os carros passaram algumas vezes acompanhando o nosso trabalho ao longe.
Não registramos nada dentro da reserva indígena que está sob júdice para não criarmos atrito com a FUNAI e partimos para a área onde ficaria o setor noroeste. É muito bonita. Possui descidas vastas e uma subida gradual em que se avista grande parte de Brasília, todos entremeados de pássaros, grandes pegadas de Lobos-guará e a vegetação peculiar do Cerrado com as soturnas noturnas jaguatiricas. O pôr do sol é único, e pela segunda vez, como no sábado, nos recebeu como se nos avisasse alguma coisa. Korubo fez questão de mostrar uma de suas moradas, um posto de observação que ele queria que saísse numa foto. Disse que a Folha de São Paulo já havia fotografado uma vez e saiu no jornal. Korubo explicava coisas sobre a vingança da mãe terra demonstrando trechos de erosão na estrada de terra que ora sacolejava o insistente carro do CorreioWeb, ora comportava alguns trechos contendo entulho. No caminho da estrada de terra vermelha pegou-se uma pequena rocha marrom que desprendia facilmente um rastro avermelhado, cuidadosamente pintado sobre a pele de Korubo. Um tipo de capim bonito nos foi apresentado para artesanato. Gentilmente nos guiou até uma área central de captação e distribuição de água da CAESB, onde um pássaro provavelmente falconiforme já nos esperava. Minha lente estava muito suja, mas num dado momento pôde registrar entre duas árvores a torre da Mesquita Islâmica ao longe, a segunda maior mesquita da América Latina. Permanecemos os três alguns minutos contemplando por um lado a natureza e por outro a bestialidade humana, e retornamos já na penumbra. Amanhã retornaremos as cinco da manhã, com previsão de visitarmos os lagos formados na área de mineração. Esperamos retornar na área com especialistas em Botânica e Ecologia para continuar o registro mais detalhadamente. Um abraço, JPhilippe”

30 junho 2008

Água na votação do CONSUNI



Água na votação do CONSUNI
permitiu antiga costura

Gente, se ultimamente tem tido muita água nos frangos congelados em Brasília, os órgãos que fiscalizam o excesso de água no frango também deveriam fiscalizar o excesso de água no CONSUNI, pois a paridade votada FOI MUITO AGUADA.
ANVISA já no CONSUNI!

22 maio 2008

CARTA ABERTA AO MAGNÍFICO REITOR PRO TEMPORE ROBERTO AGUIAR, AOS CONSELHEIROS DO CAD E À COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA

Brasília, segunda-feira 19 de maio de 2008.

CARTA ABERTA AO MAGNÍFICO REITOR PRO TEMPORE ROBERTO AGUIAR, AOS CONSELHEIROS DO CAD E À COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA

Assunto: Reunião do CAD e Comissão Disciplinar da UnB / Estudante Rafael Ayan

Apresento pela primeira vez em anos a satisfação em poder me dirigir ao atual reitor da universidade reconhecendo sua legitimidade como fruto de uma grande mobilização e anseios por uma nova universidade, ainda que a composição do atual Conselho Universitário (CONSUNI) não seja democrática em sua plenitude pela ausência da paridade. Desde o golpe que a comunidade universitária sofreu na reunião do CONSUNI de 2005 – o qual fui testemunho – que supostamente definiria as regras para as eleições para reitor à época – houve denúncias de abusos, votação se iniciando antes do horário previsto, conselheiros impedidos a entrar e agressões por um efetivo de seguranças desnecessariamente convocado, resolvi não reconhecer o último reitor renunciado devido estas manobras eleitoreiras. De fato, no começo de 2006, quando iniciava os dois anos como professor substituto lotado no Departamento de Botânica, disciplina Fisiologia Vegetal, me recusei em representar meu pai, falecido há dez anos, na cerimônia em que ele e minha mãe, ambos antigos professores e fundadores do Instituto de Psicologia seriam homenageados como professores eméritos desta universidade. Esta recusa ocorreu em função da possibilidade do recebimento em mãos da outorga através de um reitor que eu não considerava moral e democraticamente legítimo, além de uma política de gestão equivocada e incompatível com os preceitos pétreos da Constituição, que asseguram a universidade pública, de qualidade e comprometida com os anseios da sociedade. Nada me arrependo, de cabeça erguida. Deu no que deu. Enquanto o tempo dos capitalistas é uma reta e está estragando o mundo, o dos revolucionários, incluindo os espirituais, é uma curva.A reconquista da universidade através dos estudantes, em especial da ocupação da reitoria, trouxe uma nova reitoria, ainda que pro tempore. Permita-me comentar, que, entre nós, Magnífico Reitor, temos algumas coisas em comum, dentre elas o amor a esta universidade. Compartilho aqui alguns sentimentos de forma pessoal, pois muitas teorias coletivistas não conseguem visualizar que a opressão contra o indivíduo gera toda a opressão social. Há pouca diferenciação entre personalismo e personalidade, individualismo e individualidade. Pois bem. Passeio pelos corredores da universidade desde 1975, quando meus pais chegaram à UnB e ajudaram a fundar o Instituto de Psicologia. De fato, depois que meu pai faleceu, não sinto tanto sua falta porque descobri que a própria UnB o representa muito. Assim, quase diariamente o vejo aqui através de seus valores e suas idéias, representados por estes concretos caminhos. Mesmo que eu tenha decidido pela Biologia, sua contribuição e legado como psicanalista me ajudou a enxergar o mundo numa visão mais humanista. É indubitável a importância da psicologia para a política, mas é uma pena que alguns a utilizem de forma a construir políticas de gestão e projetos políticos pessoais. É também uma pena que nós entre a esquerda também não visualizemos a importância da psicologia na teoria e prática da política, numa visão não apenas social, mas psicosocial. E é importante ressaltar que estamos numa nova fase, o mundo agora deverá ser olhado e interagido através de um prisma ecopsicosocial, sob pena da humanidade ser extinta dentre em breve.Além, de biólogo, como também repórter fotográfico, em que no decorrer dos últimos anos também tenho tido a felicidade em registrar momentos marcantes da UnB, em especial do Movimento Estudantil, fotografei recentemente sua emoção em reencontrar e abraçar efusivamente o mais antigo funcionário desta universidade. Senti de forma muito sincera o apreço que tens pela universidade, e a dedicação ao desafio pela frente é fruto de sua antiga participação nesta universidade. Não concordo necessariamente com todas suas idéias, em especial quanto ao projeto Reuni, mas estamos todos juntos discutindo e caminhando para uma nova era, mais democrática, transparente e não persecutória. Vivenciamos durante os últimos anos uma política de gestão baseada em uma eficiente comunicação centralizadora das informações, e um discreto, mas presente processo de perseguição na UnB. Aliás, como tenho doado meu trabalho do registro fotográfico ao Movimento Estudantil (como Sebastião Salgado doou para o MST), no auge da ocupação meu e-mail foi grampeado e bloqueado para o envio de mensagens com fotos sobre a ocupação na reitoria, em geral encaminhadas para listas de discussão para a comunidade universitária da UnB. Meu telefone também foi grampeado. Algumas vezes algumas coisas são sempre muito estranhas, acho que você também tem compartilhado sentimentos semelhantes nos corredores da reitoria.
Mas não quero representar nestas linhas discussões teóricas ou meus problemas de informática. Venho através desta manifestar uma certa preocupação quanto a um fato que ocorrerá nesta terça-feira 20: uma reunião da Comissão Disciplinar da UnB, localizada no segundo andar da BCE (Biblioteca Central da UnB). A pauta desta reunião tratará sobre um processo que pode até mesmo jubilar o estudante Rafael Ayan Ferreira. Esta reunião terá como um dos testemunhos contra Rafael um estudante da UnB que tem um histórico peculiar e nada honroso para a Universidade de Brasília. Este provocador estudante foi acusado de racismo em 2005. Nesta época foi movido um processo contra ele pelo Ministério Público de São Paulo, sendo transferido depois para a competência do MPDFT. Seu nome é Marcelo Valle Silveira Mello e ele se tornou o primeiro réu a responder pelo crime de racismo na web. Curiosamente este ‘testemunho’ também é racker, e vem tentando destruir várias páginas de coletivos brasileiros que lutam contra o racismo (acessem os links abaixo). Ele estaria sujeito a uma pena entre dois e cinco anos de reclusão. Infelizmente a morosidade da Justiça brasileira permite com que ele continue sem nenhuma penalidade, respondendo ao processo em liberdade e ainda, pasmemos, sendo testemunho de um processo aberto pela própria UnB que nada fez contra as suas declarações enquanto estudante da universidade – declarações que fugiam do âmbito pessoal e partiam para a agressão a toda a comunidade acadêmica.O que nos espanta é que a Comissão Disciplinar estará se utilizando deste testemunho para condenar um estudante da UnB num processo um tanto quanto... estranho. Este processo estava engavetado há muito tempo e desde dezembro de 2007 não havia mais audiência marcada. Subitamente após a ocupação da reitoria pelos estudantes, ocupação que o estudante Rafael Ayan participou, esse processo foi rapidamente desengavetado. Cumpre ressaltar que o estudante Rafael Ayan está sendo julgado administrativamente pelo CAD, ou seja, está sendo duramente interpelado por dois lados: enquanto estudante, acusado de agressão por um estudante que nacionalmente é ícone em desavenças e provocador e, por outro lado, no processo de estágio probatório. Neste há despachos que em nada tangem a questão administrativa, mas tem como fim a agressão moral de Rafael Ayan.Marcelo Valle já admitiu em audiência ter xingado os negros de macacos e burros, alegando que não bastava roubarem bancos, agora roubariam vagas nas universidades. Marcelo, por vezes, disse que mataria com um tiro o estudante que o interpelasse para falar algo sobre o processo de cotas. Depois disso tudo, a Reitoria nada fez contra Marcelo, na estranha e contínua argumentação de que aguardaria a ação do Ministério Público. Desta maneira, pelo mesmo raciocínio, porque o mesmo procedimento não é efetuado com Rafael Ayan? Por que é convocado para testemunhar contra Rafael um notório racista, sendo que a UnB foi recentemente palco de escândalos de racismo apresentados e discutidos nacionalmente ? QUAL A RAZÃO EM PROTEGER MARCELO DE UM INEVITÁVEL JULGAMENTO INTERNO FAZENDO-SE VISTA GROSSA?Marcelo Valle acusou Rafael Ayan de agressão física também no Ministério Público. Perdeu a causa. Marcelo já disse que foi agredido por um grupo de estudantes do DCE numa tentativa de atingir a entidade representativa dos estudantes. Agora aproveita-se da perseguição política que a antiga Administração da UnB tinha e de certa forma ainda tem com Rafael Ayan para emplacar como vítima uma denúncia vazia, sem provas, efêmeras, quiçá concretas.Desta forma, venho por meio desta carta aberta alertar o Magnífico Reitor Pró Tempore, os Conselheiros do CAD e a comunidade acadêmica sobre a estranheza de alguns fatos que compõem a UnB. Vivemos atualmente numa transição entre ‘eras’ diferentes. Transições nunca ocorrem de forma linear e é de certa forma ‘natural’ recentes fortes reações do conservadorismo acadêmico diante das (re)conquistas da transparência e democracia. Mas a estranheza dos fatos de que falo se remete à possível proteção de Marcelo quanto à sua condenação interna, na convocação de um racista como testemunho de um processo vazio rapidamente desengavetado em pauta após a ocupação da reitoria. Isso merece uma profunda reflexão. E este fato não é nada bom internamente para a UnB e até mesmo perante a sociedade, se a mesma universidade vem tentando provar para a sociedade que está lutando contra o racismo. E na estranheza dos fatos reitero minha convicção pelo estudante e colega Rafael como íntegro e correto. Quiçá existissem não apenas um Rafael Ayan, mas existissem nas universidades e sociedade vários Rafaéis se colocando corajosamente contra o racismo e lutando por seus ideais, denunciando abusos, descobrindo sua importância como indivíduo e cidadão, edificando a idéia de coletividade e ajudando a resgatar a ética na construção de um futuro melhor para esta universidade e país.
Cordialmente,
Jacques Philippe Bucher*

* ·Mestrado em Botânica UnB 1999-2002
·Coordenador de Comunicação (colaborador) gestão AME DCE/UnB 2005
·Professor Substituto Fisiologia Vegetal (Depto de Botânica/IB) 2006 e 2007
·Professor Colaborador EIV/DEX 2008
Fontes:
CORREIO BRAZILIENSE-
Jornal de Brasília-
http://www.clicabrasilia.com.br/impresso/noticia.php?IdNoticia=290192

Campus On Line (em Indymedia/Uruguay)
http://uruguay.indymedia.org/news/2008/05/66441.php (nota: a foto não é a de Marcelo Valle)
"Quando um inseto invadir sua casa, antes de matá-lo, pergunte-se antes, quem invadiu primeiro, você ou ele" JPB

25 abril 2008

Você tem fome de quê? - Parte I

Abaixo segue o primeiro de uma série de três manifestos e artigos de minha autoria (o terceiro nunca foi terminado e é muito grande) contra os transgênicos, lançados na campanha "Por um Brasil Livre de transgênicos" que fiz parte em 2003 ativamente com o GREENPEACE e o INESC. Entreguei em mãos o manifesto frente e verso para vários deputados, senadores, ativistas e cientistas presentes em um fraquíssimo seminário sobre os transgênicos no Senado, organizado pelo PT. Um deles foi o João Pedro Stédile, que fez uma brilhante explanação. Me mandou um email mais tarde pedindo que eu enviasse o mesmo por email. Desde então recebo diariamente emails do MST, todos muito bons, sobre agricultura, Reforma Agrária e crítica à biotecnologia. Outra excelente lista de discussão é a OGM-Portugal, sempre crítica à transgenia, a qual desde 2003 recebo em torno de 4 a 10 emails diários sobre os transgênicos. É muita coisa pra ler. Um cientista que gostei muito foi o Professor Mohamad Habib da UNICAMP, um dos poucos cientistas crítico à transgenia (a exemplo de nosso corajoso colega e especialista mundial em mandioca (Manihot sp) professor Nagib Mohammed Abdalla Nassar na UnB).
Esse manifesto repercutiu bastante em 2003, quando minhas referências ainda eram como biólogo formado pela Universidade Federal de Viçosa e mestrado em Botânica pela UnB. Naquela época eu ainda não era professor de Fisiologia Vegetal na UnB. E ainda era um iludido militante ambientalista do PT (independente). Pode se dizer que um dos grande fatores pela minha saída do PT foi a aprovação dos transgênicos, além do chá de cadeira e desrespeito que o deputado Gabeira 'levou' do José Dirceu quando foi tratar de questões ambientais, culminando na sua saída do PT e posterior retorno ao PV, (gosto muito do Gabeira e do PV, ainda que o PV faça uma coligações estranhíssimas e o deputado Gabeira tenha votado a favor da privatização das telecomunicações culminando na maravilha dos preços altos das contas de telefone, tenha sido a favor da venda da Vale do Rio Doce a preços módicos, mas tudo isso não tem nada a ver). Segue o texto abaixo:

“Você tem fome de quê?” Argumentos técnicos– Transgênicos

JPhilippe Bucher nemetscek@terra.com.br
01 dez 2003

Este manifesto também é um protesto pelo boicote que a imprensa e mídia televisiva promoveram sobre a aprovação da resolução proibindo os transgênicos no país, na I Conferência Nacional do Meio Ambiente, ocorrida domingo dia 30 de outubro. Nada até o momento foi veiculado.

۰Ocorreram milhões de anos na evolução e no estabelecimento dos genes. A criação de organismos geneticamente modificados deveria ser testada durante pelo menos 100 anos, caso a caso, pois o tempo de 5 ou 10 anos de pesquisa e liberação para comercialização é ínfimo na escala evolucionária dos organismos vivos e frente às possibilidades de impacto ambiental ou saúde alimentar.

۰Os genes podem controlar muitas funções que ainda simplesmente não são conhecidas. Quando um único gene controla mais de uma função, isto é denominado pleiotropia. A grande maioria dos genes é pleiotrópico. Estas funções podem acontecer, dependendo do ambiente, em tempos variados, quer sejam efeitos secundários imediatos, ou dentre 10, 100 ou 1000 anos. Desta maneira, os atuais períodos de estudos de risco dos transgênicos são insignificantes perante o tempo da evolução dos organismos.

۰O argumento pró-transgênico para liberação de que não há trabalhos conclusivos sobre efeitos nocivos dos transgênicos é falso. Se não existem provas conclusivas em impacto ambiental, na verdade por isso mesmo é que os transgênicos não deveriam ser liberados. O tempo da natureza humana (cultural, social, econômico) é diferente do tempo natural (demais espécies biológicas e interações).

۰O país é megabiodiverso, tem o maior patrimônio genético mundial e por esta condição deveria priorizar as pesquisas para a manutenção e conhecimento de seus recursos naturais, e não investir em tecnologia de transgenia. A lógica das pesquisas em biotecnologia está invertida, pois deveriam ser priorizadas as pesquisas no conhecimento da biodiversidade (presente) ao invés de priorizar as pesquisas em biotecnologia moderna (futuro), já que grande parte da biodiversidade está sendo perdida.

۰Quando um gene é inserido em um organismo e este organismo é liberado na natureza, não é possível fazer ´recal’, isto é, “chamar de volta” o organismo como um produto defeituoso que não deu certo, para conserto. As atuais pesquisas de impacto ambiental não garantem que os organismos geneticamente modificados sejam seguros pois os parâmetros e métodos de avaliação ainda são limitados.

۰Em uma perspectiva ampla o retorno social dos OGM é ilusório pois não há indícios econômicos de que as comunidades tradicionais, indígenas e sociedade venham a ser beneficiadas neste processo biotecnológico, o que se assemelharia à experiência da revolução verde adicionado às leis de patente.

۰Em cada tipo de ambiente (clima, solo, interações ecológicas) os organismos biológicos se adaptam de forma única de acordo com o ambiente. Biólogos com boa formação reconhecem que as formas de adaptação dos organismos são relativas aos ambientes ao qual estão inseridos. Se este mesmo organismo é readaptado em outro ambiente a funcionalidade da expressão de alguns genes pode ser alterada (deixando de expressar ou mesmo passando a expressar uma (ou mais de uma) função biológica primária ou secundária).

۰A peculiaridade de cada espécie GM difere no grau de risco que pode apresentar ao meio ambiente. Assim, os microrganismos transgênicos potencialmente podem apresentar maior perigo ambiental pois apresentam maior facilidade de deslocamento e 'transporte' do que por exemplo um camelo transgênico. Os OGMs também se diferem de acordo com sua interação no ambiente no qual estão inseridos.

۰Quando um OGM é reintroduzido em outros ambientes os parâmetros de avaliação de impacto ambiental realizados na pesquisa original não poderiam ser considerados se este OGM é introduzido em outro ambiente muito diferente (uma variedade da soja geneticamente modificada pesquisada nos EUA que é introduzida na Ásia ou Austrália por exemplo).

۰A pressa na liberação dos transgênicos deve ser levada em conta como parte de uma ideologia, pois a pressão e a urgência na liberação dos OGMs é muito suspeita (?).

۰Há alimentos suficientes no mundo para atender a demanda da fome, mas não existe vontade política para isso. O argumento de que os alimentos transgênicos solucionarão a fome mundial é uma falácia pois a revolução verde não resolveu.
Inversões de lógica: Não são os alimentos que tem que aumentar porque a população mundial está aumentando, mas sim a população mundial que tem que começar a diminuir, e isto quer dizer criar e facilitar condições mínimas para o exercício da dignidade humana nas populações menos favorecidas, e não simplesmente aumentar a produção de alimentos se as comunidades não terão acesso. (Não é necessário criar uma bactéria transgênica para degradar o plástico, é necessário fabricar e descartar menos plástico.)

۰A grande maioria dos pesquisadores não é comprometida com aspectos políticos e não tem muito conhecimento sobre os movimentos sociais. O pensamento predominante é de purismo e tecnificismo: ciência não deve se aliar à política. Este argumento é estranho pois não existe neutralidade na ciência se esta já é realizada pelo ser humano. Como organismos vivos que somos, possuímos propósitos, dentre os quais o básico instinto da luta pela sobrevivência (ainda que nos seres humanos os mecanismos deste instinto são diversificados). O método científico pode ser neutro (uma régua tem o mesmo tamanho em todos os países), mas a partir do momento em que se formula uma pergunta científica para ser comprovada, esta já é imbuída de parcialidade. Neutralidade científica é utopia.

۰Para aqueles que argumentam que não existem trabalhos científicos sobre impacto ambiental dos transgênicos, na verdade já existem muitos estudos e trabalhos preliminares de risco ambiental e comparação de produtividade, apenas são pouco divulgados. A maioria das pesquisas, contudo, está sendo gradativamente direcionada para a transgenia pois existe um fascínio em relação à tecnologia de OGMs na maioria dos pesquisadores de biotecnologia, o que tem provocado um grande vácuo na formação de pesquisadores para o reconhecimento da nossa fauna e flora.

۰O argumento de que o país ficará atrasado se não liberar os OGMs não leva em consideração que pelo fato desta tecnologia ser muito recente, se o Brasil se declarar como área livre de transgênicos poderia estar acompanhando como observador os outros países que se posicionaram a favor. O acompanhamento à distância desta tecnologia fornece à sociedade brasileira mais elementos para uma nova discussão sobre os transgênicos no futuro, de forma mais amadurecida e com mais subsídios de acordo com as experiências dos outros países. O que não podemos aceitar é nos incluirmos como cobaias de uma tecnologia recém formada, apenas porque as multinacionais dos outros países querem assim ou porque o lucro dita as regras.

23 abril 2008

Você tem fome de que? - Parte II

Segue o segundo manifesto... em forma de perguntas e (possíveis?) respostas.

“Você tem fome de que?” Parte II
JPhilippe Bucher nemetscek@terra.com.
[Aviso aos cientistas: Linguagem simplificada.]


O que é um gene?
A genética clássica define o gene como uma parte de um cromossomo que está relacionada com a produção de uma proteína. Esta proteína poderá influenciar ou apresentar a cor dos cabelos (quando a cor é verdadeira), a altura de uma planta, a pelagem de um gato, todas estas características que são consideradas influenciadas pelos genes (mas o ambiente também influencia).
Este conceito clássico do gene como sendo a menor unidade de informação hereditária está sendo reavaliado por um conceito mais abrangente, uma vez que muitos cientistas vêm provando que um gene pode produzir mais de uma proteína e além disso existem genes cuja função se sobrepõe a de outros genes.
Fontes: http://www.ufv.br/dbg/labgen/introdu%E7%E3o.htm
http://conservacao.ib.usp.br/glossario.php#genes
http://imgen.bcm.tmc.edu/IPIF/nipfgenepo.htm#Gene
http://www.redesaude.org.br/jr25/html/body_jr25-enc1.html
http://www.oficinainforma.com.br/semana/leituras-20010407/01.htm

O que é um organismo transgênico?
É um ser vivo que sua composição genética original foi mudada através de técnicas especiais em laboratório. Isto quer dizer que este ser vivo tem pelo menos um gene de outro ser vivo. Quando um gene é transferido e inserido de um ser vivo para outro este último será considerado transgênico. (A palavra trans significa ‘através de’, ‘além’).
É possível introduzir qualquer gene entre qualquer ser vivo existente na face da Terra, o que possibilita uma combinação infinita de resultados. Os organismos transgênicos podem ser não apenas plantas, mas também micróbios ou animais.
Extra: http://free.freespeech.org/transgenicos/transgenicos/def/def-01.htm
http://www.agrisustentavel.com/trans/campanha.htm
http://www.edutec.net/Tecnologia%20e%20Educacao/Apoio/edtransg.htm
http://www.argonautas.org.br/incertezas.htm
http://www.sfiec.org.br/palestras/tecnologia/biotecnologia_conceito_potencialidades_e_dificuldades.htm
http://www.ufv.br/dbg/BIO240/dg11.HTM

O que é um herbicida?
Cida é uma palavra (vem do latim caedere) que significa ‘que mata’, ‘que fere’, ‘que cai’. Por exemplo, inseticida, fungicida, vermicida, herbicida, homicida.
Durante a segunda guerra mundial algumas empresas químicas pesquisaram substâncias venenosas para matar pessoas, os soldados inimigos. Descobriram que o mesmo veneno que matava pessoas podia matar também insetos, e como a guerra acabou as pesquisas foram evoluindo para matar insetos, fungos e outras ditas pragas. Herbicida, ou mesmo ervicida, é uma substância empregada na destruição de ervas daninhas.
Muitas ervas, cuja grande maioria pode possuir substâncias interessantes, mas foram pouco pesquisadas, são consideradas pelos agricultores das grandes monoculturas como verdadeiras pragas. Quer dizer, elas são daninhas dependendo do ponto de vista. É bom lembrar que a utilização dessas plantas consideradas daninhas por pessoas do meio rural que tem conhecimento está diminuindo a cada dia. Os jovens atuais, influenciados pela mídia, cada vez menos se interessam por este tipo de conhecimento. Então, voltando ao caso das ervas, algumas substâncias químicas matam estas plantas, mas estas substâncias geralmente não fazem distinção entre as plantas e acabam matando aquelas que os agricultores querem cultivar.

Para quê serve o herbicida Roundup?
Um tipo de herbicida conhecido como Roundup possui uma substância conhecida como glifosato, que é tão potente que a legislação brasileira e em diversos países determina que deveria ser aplicada apenas antes de plantar a semente, na fase de pré-cultivo. Pode-se aplicar o glifosato apenas antes da emergência da planta no solo. Existem trabalhos científicos que comprovaram que seu uso tem provocado resíduos nos produtos alimentícios derivados do cultivo e que o glifosato é muito prejudicial ao organismo humano.
Uma empresa chamada Monsanto ‘desenvolveu’ uma planta geneticamente modificada que não morre com a aplicação deste herbicida Roundup. Um dos problemas que pode ocorrer (além dos riscos inesperados que podem acontecer por conta dos efeitos imprevistos do gene introduzido) é que os agricultores, sabendo que a planta que querem cultivar não morrerá por causa do agrotóxico, passem a aumentar a dose do agrotóxico. Ora, pensemos bem. Se o termômetro para que o agricultor não jogasse mais veneno era a própria morte da planta de interesse, se agora esta planta é resistente ao agrotóxico o agricultor não vai se importar em quanto veneno ele poderá despejar porque ele não terá mais um parâmetro.

Qual a origem da empresa Monsanto?
A Monsanto é uma empresa norteamericana fundada em 1901 para o desenvolvimento de produtos para o setor agrícola. Atualmente, dentre inúmeros ‘produtos’ como sementes desenvolvidas e pesticidas a empresa vem desenvolvendo pacotes biotecnológicos de sementes modificadas. Em 1950 chegou ao Brasil, e em 1976 inaugurou a primeira fábrica em São José dos Campos (SP). Esta fábrica é considerada pela Monsanto como um dos complexos industriais mais avançados fora dos Estados Unidos. Nesta fábrica também são produzidos os herbicidas da linha Roundup.
Fonte: (o próprio sítio da Monsanto)
http://www.monsanto.com.br/monsanto_ht2003/index.html

Como são as propagandas sobre os transgênicos da Monsanto?
Em dezembro de 2003 a Monsanto apresentou uma grande ofensiva em propaganda para dizer que os transgênicos podem melhorar o mundo. A propaganda foi patética uma vez que a tecnologia de transgenia é tão complexa e pode ter tantos desdobramentos imprevisíveis que talvez poderíamos comparar esta publicidade como se na época da descoberta da energia nuclear algumas empresas divulgassem dizendo que a energia nuclear seria a panacéia para um mundo melhor.
“Imagine um mundo que preserve a natureza, o ar, os rios. Onde a gente possa produzir mais com menos agrotóxicos, sem desmatar as florestas. Imagine um mundo com mais alimentos e os alimentos mais nutritivos e as pessoas com mais saúde. Já pensou? Ah, mas você nunca imaginou que os transgênicos podem ajudar a gente nisso. Você já pensou num mundo melhor? Você pensa como a gente. Uma iniciativa Monsanto com apoio da Associação Brasileira de Nutrologia".
A propaganda ainda utiliza a bela música “Que mundo maravilhoso” (What a beautiful world) do cantor de jazz Louis Armstrong. Esta música é a mesma usada no filme “Bom dia Vietnã” (Good Morning Vietnã), filme norteamericano que tentou suavizar a guerra do Vietnã. Quem sabe daqui a vinte anos talvez façam um filme com alguma música enternecedora sobre a guerra do Iraque em 2003 (?).
Fontes: http://www.geocities.com/toamazon/toajbeditoriapolitica.htm
http://www.geocities.com/Pentagon/Quarters/4082/page58.htm
http://www.conhecerparaconservar.org/opinião/notícias/descricao.asp?NewsID=3811

O que é a agroquímica?
É o ramo da indústria química especializada no desenvolvimento de fertilizantes e pesticidas para aplicação na agricultura. Segundo a Embrapa do total de agroquímicos os herbicidas são 46,6%.
Fontes: http://www.cenargen.embrapa.br/biotec/diversidade-genetica.pdf
http://www.promarinternational.com/Brochures/SAcropprotection.pdf

Quais são as grandes empresas mundiais produtoras de agroquímicos?
Em 2001, de acordo com dados da Embrapa, as maiores empresas produtoras de agroquímicos foram Bayer Crop Science, Syngenta, Monsanto, Basf, Dow AgroSciences, DuPont, Makhteshim-Agan, Sumitomo Chemical, FMC, mas com a velocidade da globalização estes tipos de empresas freqüentemente passam por mega fusões.
Fontes: http://www.cenargen.embrapa.br/biotec/diversidade-genetica.pdf
http://free.freespeech.org/transgenicos/transgenicos/sociedade/governo/cl-05.htm

Segundo a Embrapa a maioria das plantas cultivadas no Brasil são exóticas. O que vem a ser uma planta exótica?
Uma planta é considerada exótica quando ela não é natural do país. Por exemplo, a batata-inglesa é uma planta originária dos Andes. Apesar de ser originária dos Andes, quando os espanhóis a trouxeram para a Europa desde então ficou conhecida como batata-inglesa. Outros exemplos de plantas exóticas são a alface, a soja, a mangueira, milho, arruda, alecrim, alcachofra, etc, etc, etc, . . . Toda estas que conhecemos...
Se grande parte das plantas cultivadas do país é exótica, e o país tem a maior biodiversidade do mundo, mas tem também muitas pessoas passando fome, você não acha que tem alguma coisa errada?
Fontes: http://www.cenargen.embrapa.br/biotec/diversidade-genetica.pdf (pág. 32)
http://www.agrobyte.com.br/batata_centro.htm
http://www.laspatatasdelabuelo.com/portugues/patatas/historia.html

E o que vem a ser biodiversidade?
Biodiversidade pode ser considerado como a variedade e o conjunto de seres vivos e suas interações em um local amplo ou mais restrito.
Leiam em: http://conservacao.ib.usp.br/biodiv_oque.php
http://educar.sc.usp.br/ciencias/ecologia/ecologia.html
http://www.sosmatatlantica.org.br/?id_pasta1=0&id_pasta2=83

O que os cientistas pensam a respeito da opinião pública sobre os transgênicos?
A maioria dos cientistas que lidam com biotecnologia de modo geral pensa que a sociedade trata com muita emoção o assunto dos transgênicos, sem embasamento científico e misturando fatores políticos e econômicos. Mas se estes fatores (político e econômico) não estiverem envolvidos então para que existe a ciência? A ciência deve permanecer à parte da sociedade? A ciência existe para uma finalidade, logo não é neutra. Os fatores políticos e econômicos dentro de certos limites devem nortear a ciência até para que ela seja mais bem aproveitada, o que atualmente não vem ocorrendo.
E se a sociedade não tem muito conhecimento sobre o que os próprios cientistas produzem é porque os cientistas não estão sabendo dialogar com a sociedade. Aliás, também existe muita emoção nos cientistas pelas vaidades e as suas disputas internas, o que acaba atrapalhando a ciência.

O que é neutralidade?
Uma famosa banda de música americana chamada RUSH tem uma música que diz assim: “Se você escolheu não decidir, ainda assim você fez uma escolha” ("If you choose not to decide you still have made a choice."). Os cientistas também são assim, quando não escolhem decidir, na verdade já fizeram uma decisão. Cabe de agora em diante o Congresso Nacional saber escolher entre uma escolha menos arriscada e compromissada com uma tecnologia nova e repleta de incertezas.

ESTÁGIO DE RESIDÊNCIA SOCIAL

O texto abaixo foi escrito também em 2003 e entregue em mãos para vários políticos e especialistas em educação, dentre eles, o então à época Ministro da Educação Cristovam (no primeiro governo Lula) e Marilena Chauí. Ambos estavam num seminário de educação, se não me engano promovido pelo PT. Este seminário ocorreu concomitantemente aos volumosos e violentos protestos dos trabalhadores na frente do Congresso Nacional, contra a Reforma da Previdência. Foi encaminhado para várias listas de discussão e na semana seguinte também foi protocolada a entrega no Ministério da Educação para que o mesmo ministro recebesse oficialmente. Como provocação ao debate, inseri um belíssimo texto de Ben Okri, do seu livro Arcadia (Phoenix House, 2002), sobre idealismo. Interessante colocar aqui que no protocolo do ME eles tiraram esta mensagem, achando por melhor arrancar a contra capa que continha esta mensagem inicial. Anos mais tarde a UNE apresentou proposta semelhante ou com nome próximo ao de Estágio de Residência Social. O texto pode estar desatualizado ou pedagogicamente incipiente, mas deixo o mesmo para ser lido na forma original:

"Idéias

“Se você acredita em algo, sua própria crença o torna desqualificado para fazê-lo. Sua dedicação vai transparecer. Sua paixão vai se revelar. Seu entusiasmo deixará a todos nervosos. E sua ingenuidade irá irritar as pessoas. O que significa que você se tornará suspeito. O que significa que você será propenso a desilusões. O que significa que você não será capaz de sustentar sua crença diante de tantas piranhas que corroem sua idéia e sua fé, até que reste apenas um esqueleto do seu sonho. O que significa que você tem de se tornar um fanático, ou um tolo, uma piada, um estorvo.
O mundo ­– ou seja, os poderes estabelecidos – ouviria suas ardentes idéias com um sorriso frio no rosto, depois levantaria obstáculos impossíveis, vendo você finalmente desistir de sua preciosa idéia, após tê-la mutilado de forma a ficar irreconhecível e, depois que você sucumbisse profundamente desencorajado, ele vai pegar sua idéia, lustrá-la um pouco, dar-lhe novo ângulo e, então, irá passá-la para alguém que não acredita nem um pouco nela.”
De: Ben Okri, Em Arcadia (Phoenix House, 2002
)

Brasília, 24 de março de 2003.

Contexto:
“Em um de seus discursos, o ministro da Educação, Cristovam Buarque, reclamou por mais propostas por parte do Movimento Estudantil, e desde que assumiu o ministério, estaria aberto a novas propostas. A idéia do Estágio de Residência Social não é, contudo, nova, mas ela deve ser relembrada, inclusive para auxiliar no projeto de alfabetização universitária. Se esta idéia começar a dar certo nas universidades públicas, as universidades particulares vão atrás”

Pré-proposta: Estágio de residência social
Sujeito: Estudantes universitários
Encaminhando: Ministro de Educação Cristovam Buarque

Ao Sr. Ministro Cristovam Buarque,

Os estudantes de graduação das universidades federais vem sendo motivo de discussão sobre sua permanência nas universidades do país, que desde o início da década de 90 vem atravessando uma séria crise financeira. Entende-se como crise financeira o repasse cada vez menor de verbas necessárias para o funcionamento das instituições públicas de 3º grau, por medidas oriundas da ideologia do neoliberalismo, embora outras questões possam estar envolvidas. Esta crise reflete no ensino, no academicismo e também na idéia que se formula sobre a função das universidades públicas deste país. Além do papel social das universidades estatais, as universidades pagas, sob o título de cátedra filantrópica, também vem sendo ponderadas. Estas, vêm deixando muito a desejar, como tem sido demonstrado através dos resultados dos exames do provão e manifestações cada vez mais contundentes dos estudantes sobre as más condições de ensino.
Em relação aos estudantes das universidades públicas, argumentou-se durante muitos anos que são em grande maioria oriundos da elite porque apenas os jovens mais abastados tiveram e têm acesso ao melhor do ensino básico, médio e reforço com cursos suplementares, assim como os estudantes das universidades pagas. Esta constatação é um fato, mas a simples taxação dos estudantes que teriam condições para pagar uma mensalidade não resolveria a situação econômica das universidades públicas. Ainda por cima, pelo próprio conceito das universidades públicas, a universalização do conhecimento e a distribuição da produção deste conhecimento, torna-se a proposição da taxação antiética, responsabilizando-se principalmente a classe média pelo fracasso do papel social das universidades. Diante do potencial do conhecimento produzido e reproduzido nas universidades, sua aplicação para a sociedade tem sido irrisória. A tão sonhada ‘emancipação’ e autonomia das universidades não respondem aos anseios dos inúmeros problemas, muitos ainda básicos, que a sociedade brasileira sempre enfrentou, enfrenta e enfrentará se soluções mais contundentes não forem tomadas, levando-se a coragem para implementá-las.
Como uma das soluções para reverter o quadro de desconfiança às universidades e aos estudantes ‘da elite’, propõe-se a implementação e cumprimento do estágio de residência social.O tipo de estágio conhecido como ‘residência’, é uma probação conhecida do curso de Medicina, como uma última etapa para a especialidade médica, estendendo aos estudantes uma preparação mais próxima da realidade, tendo como objetivo e conseqüência o acúmulo de experiência. Na Universidade de Brasília (UnB), alguns cursos como Psicologia, Farmácia ou Biologia adotam sistematicamente formas de estágios monográficos ou pesquisa no último ano da grade curricular, também pela função probatória.
O estágio de residência social é conceitualmente mais profundo, uma vez que o objetivo principal é a aplicação do potencial mal aproveitado das universidades através da parelha ensino-extensão. No último ano de cada curso universitário os estudantes das universidades proporcionariam juntamente com o corpo docente um ano de estágio social em um projeto de caráter desenvolvimentista, proporcional ao seu curso, voltado para a sociedade, aplicando-se o aprendizado academicista na prática dos saneamentos dos problemas brasileiros. Este caráter poderá perpassar pelos problemas básicos como a alfabetização, em um primeiro momento, mas progressivamente não deverá restringir-se à apenas esta matéria.
O jovem recém formado de uma universidade é a melhor mão de obra para atuar em um mercado: possui o conhecimento mais recente para colocar em prática no mercado de trabalho porque teve acesso as últimas atualizações teóricas; por ser jovem, é idealista por natureza (mesmo não sendo tão jovem, acaba de sair de um ambiente por si idealista), assim tendo vontade de mudança; e sendo jovem em sua maioria, tem vigor. Em suma, apenas não possui experiência prática. Falta então, um contato com o trabalhador maduro e mais experiente, e sobretudo, falta contato com a grande realidade brasileira. Uma pilhéria no meio universitário diz que a universidade é ‘uma grande ilha da fantasia’, e que ‘o mundo lá fora é diferente’.
A grande diferença entre o estágio de residência social e os outros projetos semelhantes de caráter assistencialista, é o cunho cogente, racionalmente necessário, da importância para a sociedade e para o indivíduo que o está implementando. A obrigatoriedade desta etapa no processo de formação do acadêmico é imprescindível face às nossas dificuldades sociais, oriundas do pensamento liberal e de erros históricos. Alguns fatores argumentam a obrigatoriedade. O princípio jurídico da razoabilidade pode ser contextualizado pelo antagonismo dos problemas sociais e o esperdício do potencial das universidades. A socialização tem como conseqüência direta a humanização dos envolvidos, adverso ao poder de alienação propiciado pelos meios de comunicação do mundo ocidental. A progressiva diminuição dos recursos naturais, ao contrário da mentalidade de ‘provisão constante’, também é um fator a ser considerado, para que os acadêmicos possam sentir a responsabilidade que os cerca, do ambiente ao seu redor. Esta inserção do acadêmico no projeto social indica sua responsabilidade pelo ambiente que o circunda.
A obrigatoriedade desta etapa no processo de formação do acadêmico é o grande diferencial dos outros projetos voluntaristas, pela gravidade dos problemas sociais deste país, que exigem a implementação de desenhos mais profundos para suprimir futuras convulsões sociais na salvaguarda das gerações vindouras. No caso dos universitários das estatais, uma vez que os recursos gastos com os estudantes são motivo de polêmica, a idéia do estágio de residência social é proporcional ao retorno dos recursos gastos nas universidades, em cuja adequação e competência do estágio probatório constituiriam valor inestimável na formação do aluno e para a sociedade. No caso dos estudantes das escolas pagas, o estágio de residência social se formaliza na certificação da idéia de filantropia concedida pelo estado na própria função e existência das universidades pagas.
A idéia do proposto estágio não pode ser considerada imperativa ou ‘estalinista’ uma vez que a dita obrigatoriedade apenas poderá ser implementada quando o pretentende a aluno de uma universidade, no ato de sua inscrição do Programa de Avaliação Seriada ou vestibular, assuma declaratóriamente o compromisso de retorno social através do estágio de residência social. Portanto, se a idéia do estágio de residência social fosse constitucionalizada hoje, poderia apenas ser implementada daqui a cinco anos, através da formalização dos termos assumidos por cada estudante. Isto quer dizer que este projeto não poderia ser estendido aos atuais estudantes pela ausência dos termos de compromisso (e é claro um amplo debate com a sociedade). Esta idéia não pode ser considerada uma proposta mandatária uma vez que o pretendente a aluno tem a opção em seguir uma diferente carreira, no qual o investimento e retorno social seja menos elevado.
Um outro aspecto a ser considerado é a proposta da diferenciação dos estágios a serem cumpridos pelos estudantes das universidades públicas e pagas. Aos acadêmicos das instituições pagas também seria facultada a opção da realização do projeto desenvolvimentista através de instituições privadas. Entretanto isto deve ser motivo de ampla discussão, bem como outras questões (tempo da realização, somente um semestre ou apenas um ano ou mais; exclusivamente no último ano ou antes; remunerado ou não ou apenas amplo apoio logístico; questões jurídicas, éticas, e outras).

Jacques Philippe Bucher*

–independente

Estudante recém formado em Botânica, UnB

nemetscek@terra.com.br"

Porque votei SIM

Mais um manifesto meu, escrito em 2005, dessa vez a favor da proibição do porte de armas, a campanha do desarmamento, o SIM, que a sociedade acabou dizendo não. Que desgraça. Hoje faço parte da comunidade no Orkut "Votei sim, não atire em mim" hehehe Segue:


Porque eu voto no Sim, no referendo pelo desarmamento
JPhilippe Bucher

1. Porque a campanha formal ou informal do Não, votar contra a proibição do comércio de armas, possui argumentos muito ruins. Os argumentos como o direito à liberdade, comparações do Brasil com outros países bastante diferentes da realidade brasileira, ou um certo patriotismo, ou mesmo uma iminente invasão americana, são pobres

2. Porque eu sei que o problema da violência no Brasil não irá resolver da noite para o dia, mas que é muito mais cômodo votar pelo continuísmo do que pela mudança, quando a proibição é apenas o primeiro passo, de muitos necessários

3. Porque é muito mais fácil fazer campanha pelo não desarmamento do que lutar a favor da implementação de maiores políticas públicas a favor da segurança, como por exemplo a melhoria das condições para a polícia e maiores condições de segurança para a população. Como dito anteriormente o desarmamento está apenas começando. Se você estiver insatisfeito quanto ao que virá, vamos continuar lutando

4. Porque quem vota contra a proibição (a favor das armas) não faz ou não fará campanha a favor de outras medidas de segurança, como a liberação de colete a prova de balas, que é proibida para a população civil. Se há tantas armas de fogo e existem tantas mortes, porque também não fazem campanhas para a liberação de coletes a prova de balas?

5. Porque as empresas de armas de fogo estão interessadas apenas no lucro, embora visando o lucro poderiam investir em artefatos de defesa menos agressivos e mais legítimos e éticos

6. Porque quem faz campanha a favor da manutenção do comércio de armas geralmente não se preocupa muito em proibir o uso de armas de fogo em manifestações populares, pela polícia. Já existe um projeto de lei do legislativo nesse sentido. Em algumas manifestações tem ocorrido mortes, pouco divulgadas

7. Porque há grandes empresas jornalísticas que estão apoiando a causa a favor das empresas de armas, promovendo um mau jornalismo, unilateral, antiético e de baixo nível, sem citações confiáveis

8. Porque a teoria conspiratória de que os Estados Unidos estão planejando uma invasão no país, ou em escala planetária, começando pelo desarmamento nos outros países, é delirante. Os Estados Unidos já estão no Brasil há muito tempo, de outra forma, e estão de olho na Amazônia sim, mas se quisessem invadir fisicamente suas metralhadoras são melhores e mais possantes do que nossos revólveres

9. Porque o discurso da liberdade no direito a ter uma arma em casa, usando jovens falando na televisão, é falso. Liberdade não combina com armas e balas e há a liberdade do referendo, não estamos em uma ditadura. O estatuto prevê que pessoas ameçadas ou morando longe de cidades possam ter armas, de acordo com cada condição. Existe o programa de defesa de testemunhas. Se você acha que ele é ruim, ajude a lutar para que seja melhorado

10. Porque simplesmente violência não se combate com violência. Os países mais avançados em justiça social sabem que o investimento em trabalho, educação e cultura é a maior eficácia no combate à violência a longo prazo, e quem defende a liberdade do comércio de armas geralmente não tem essa visão social

11. Porque a restrição dos horários de funcionamento noturno de bares no Distrito Federal reduziu drasticamente crimes durante a madrugada. Você acha que isso foi um atentado à liberdade?

12. Porque se investe pouquíssimo nas comunidades. Sua união na forma de associações, agremiações, prefeituras locais é uma forma muito eficaz de diminuir a violência, permitindo que os moradores se conheçam e se interajam com os bons policiais. A inclusão social também é muito eficaz para se combater a violência

13. Porque todo dia deveria ser dia de maria, e não de bala no crânio

14. Porque emocionalmente muitas pessoas que estão votando pelo Não estão fazendo porque crêem que esse é um modo de vingança contra o governo Lula. Eu não me simpatizo com várias medidas do governo Lula mas há outras formas de protestar isso

15. Porque eu assisti ao documentário "Tiros em Columbine", e ao filme "Abril Despedaçado".

Qualquer argumento ou idéia acima pode ser utilizado na campanha, parcial ou integralmente
."

21 abril 2008

Reunião da Comissão de Comunicação

Comissão de Comunicação - o que acham da gente se reunir na semana que vem? O pessoal da USP está com boas propostas e idéias conjuntas, além do que seria bom conversarmos para fazer uma avaliação da ocupação, conjuntura e discutir a organização do banco de imagens (fotos e vídeos) e sua divulgação.
Ainda tem muita coisa para ser postada no blogue da ocupação, muitas informações relevantes! Mas vão ser postadas com calma no decorrer da semana, é importante a nossa reunião.

Fotos da ocupação


As fotos e vídeos da ocupação* também vão ser publicadas no CMI e no ORKUT da comunidade da ocupação. Porém, após a organização com calma das mesmas, de modo a poder selecionar com mais tranquilidade as melhores e quais podem ser ajustadas ou descartadas.
Além disso, foi tirado em reunião que ficamos de criar um fotologue pelo FLICKr. Particularmente não gosto do layout do Flickr, que aparentemente não apresenta nenhuma opção de mudança de layout (ou apresenta?). Fotos vistas com fundo branco é meio sem graça não acham? A vantagem do Flickr é o grande armazenamento de fotos, parece que são 100 megas por mês, alguma coisa assim (se alguém puder me confirmar isso). Além disso parece que carrega grandes lotes de imagens em menor tempo, mais rápido que a nova ferramenta de carregamento em lotes do orkut, nõa conheço ainda.

*todas as imagens geradas, não apenas as minhas!

Problemas

As fotos são organizadas por cada dia. Hoje consegui organizar as fotos do primeiro dia da ocupação... vitória!! Mas está um pouco lento, vou tentar dar uma acelerada. Pelo intenso uso do mouse desde há muito tempo estou com ler na mão direita, que foi agravado nessas duas semanas com o intenso clicar na máquina, a seleção das fotos e postagem para o blogue da ocupação. Assim estou trabalhando no computador com a mão esquerda, mas chegamos lá!
Tenho um outro antigo problema que é a organização (catalogamento e armazenamento) das minhas imagens, que não são poucas. Os fotógrafos e galera da comunicação poderiam me ajudar, quais são os melhores programas de catalogação de imagens? Vou citar um exemplo prático: tiro muitas fotos na rua, logo chego em casa e quero selecionar as melhores para publicar online. Pelo Windows Explorer não existe um tipo de marcação para cada foto escolhida, aí eu tenho que anotar uma por uma num papel ao lado do teclado e depois copiar as escolhidas pra uma nova pasta. Primário não? Se tivesse uma forma de selecionar com um atalho no teclado, mas o WE não faz isso. Sugestões de programas de catalogação?

20 abril 2008

Em breve

Galera, em breve o blogue será atualizado com as últimas crônicas e trabalhos fotográficos, incluindo o trabalho do registro fotográfico da ocupação com minhas impressões. Aguardem!

ps. 1. vai demorar um pouco pois estou arrumando as fotos. Pelo intenso uso do mouse desde há muito tempo estou com ler na mão direita, que foi agravado nessas duas semanas com o intenso clicar na máquina, a seleção das fotos e postagem para o blogue da ocupação. Assim estou trabalhando no computador com a mão esquerda, um pouco mais lento.
2. Estou estudando para o concurso do MMA (Ministério do Meio Ambiente), prova neste domingo 27. Assim, a prioridade está sendo o concurso. Desejem-me sorte! :)

05 agosto 2007

A força do Hip Hop

Meu melhor trabalho fotográfico no Movimento Hip Hop. Registro do encontro mensal do Movimento Hip Hop do DF (B-Boys e B-Girls), que ocorre no primeiro sábado de cada mês, desde 1999 em frente ao Conjunto Nacional. Hip Hop é família, Hip Hop é respeito, todos podem participar. Neste sábado, 04 de agosto de 2007, não foi diferente, teve muita energia, e desta vez, finalmente, depois de muito tempo de vacas magras, o Conjunto Nacional voltou a liberar energia para o evento. Até que enfim né? (Mas antes quem estava ajudando muito disponibilizando o som era o pessoal dos carrinhos de venda de CD, vamos deixar os agradecimentos a eles aqui!) No próximo encontro vou deixar um CD gravado com cada grupo, as fotos são do Movimento. Divulguem meu trabalho, deixem as impressões no Blog!

Celebre a paz, viva a vida
















Meu melhor trabalho fotográfico no Movimento Hip Hop. Registro do encontro mensal do Movimento Hip Hop do DF (B-Boys e B-Girls), que ocorre no primeiro sábado de cada mês, desde 1999 em frente ao Conjunto Nacional. Hip Hop é família, Hip Hop é respeito, todos podem participar. Neste sábado, 04 de agosto de 2007, não foi diferente, teve muita energia, e desta vez, finalmente, depois de muito tempo de vacas magras, o Conjunto Nacional voltou a liberar energia para o evento. Até que enfim né? (Mas antes quem estava ajudando muito disponibilizando o som era o pessoal dos carrinhos de venda de CD, vamos deixar os agradecimentos a eles aqui!) No próximo encontro vou deixar um CD gravado com cada grupo, as fotos são do Movimento. Divulguem meu trabalho, deixem as impressões no Blog!

04 agosto 2007

Breakdancers

O francês Junior é considerado um dos melhores BBoys do mundo. Atualmente ele tem sido mais chamado como parte do jurado dos concursos, como o famoso Red Bull BC One. Ele tem um problema nas pernas, o que torna seus braços muito fortes, conseguindo fazer um jogo de força e elasticidade que poucos conseguiriam. Uma de suas fraquezas é não conseguir fazer muitas acrobacias no ar, por causa da pouca força nas pernas. Mas é um de meus BBoys mundiais favoritos



http://www.youtube.com/watch?v=CReeVf_VBL4


Tem outro BBoy, o italiano Cico, talvez ele seja o melhor do mundo em giro plantado com a mão. Ele é realmente muito, muito bom. O problema é que o Cico se especializou muito neste tipo de movimento, ele é um pouco alto, e atletas muito altos em geral não conseguem fazer muitos 'mortais' no ar, então acaba que ele é um pouco 'limitado'. Eis seu vídeo:




Nesse caso em comparação com o Cico e o Junior, Pelezinho poderia ser considerado um atleta mais completo. O Pelezinho Cico por pouco, mas realmente fez por merecer. Ele apresenta uma dobradinha muito pessoal que é a capacidade de unir rapidamente movimentos de chão e ar, em entradas muito velozes. O Pelezinho tem um pequeno problema, parecido com o da Daiane: aterrisagem. Tem um outro combate que ele caiu errado e foi parar longe. Mas nesse ele faz um mortal quatro vezes quase encostando a cabeça no chão que faz o Cico ficar sem graça. No último lance do combate Cico ainda mostra um belíssimo moinho de vento carpado (haja abdominal e força nas pernas) mas não adiantou, teve o azar de enfrentar o Pelezinho:

Gostaria de comentar também as BGirls, mas o acesso aos vídeos e festivais é muito pequeno, ê mundinho machista.

29 julho 2007

Cora Coralina 2

Prosseguindo as ruas e os caminhos da cidade, conhecemos um morador que conheceu Cora Coralina quando ainda menino, que dizendo fazia umas visitinhas ao pomar da Cora Coralina.

Meninada

Em Velho Goiás
Conheci seu Antônio
do Galo
Disse ele
Dona Cora
Brava era
Também pudera
Adentrávamos seu jardim
Com poesias
Roubávamos-lhe frutas
Sem violar a lei
Lei de menino.

Cora Coralina

Trabalhando como fotógrafo em um projeto da EMBRAPA/MMA em 2005, tive a oportunidade de voltar em Goiás Velho, a antiga capital colonial do estado de Goiás. Ficamos hospedados num hotel próximo da casa da Cora Coralina. Escrevi dois poemas em sua homenagem. E ao ser agraciado em ficar num hotel em frente de sua antiga casa, não poderia me esquecer que algumas décadas atrás tivemos eu e minha mãe a honra de conhecer essa poetisa, espírito forte, tão amável e singela, cuja visita à sua casa nesta última ida à Goiás Velho me encheu de lágrimas ao reconhecer o canto que ela havia nos recebido e nos dedicado um autógrafo. À época decidimos adquirir um de seus inúmeros livros que até hoje carinhosamente guardo com sua assinaturinha.

Goiás Velho possui este nome, mas é oficialmente conhecido como Cidade de Goiás. Os moradores mais antigos não gostaram do nome Goiás Velho uma vez que nos anos 30 cederam a capital do Estado para Goiânia. A cidade recebeu no final de 2001 o título de Patrimônio Cultural da Humanidade da Unesco. Alguns dias depois enfrentou uma forte enchente, adentrando na casa da Cora Coralina, cujo rio passa ao lado e já havia virado um museu. A cidade possui seis igrejas tombadas pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).


Velho

Fui na casa da Cora

Coralina que ela só


Fui duas vezes


Uma em vida

Outra em encanto


Foi assim em Goiás.


12 julho 2007

A fotografia e o plebeu

Este texto a seguir não é uma crônica como os textos mais abaixo, mas um ensaio intimista e histórico sobre minha tumultuada relação com a fotografia.

"Muito curiosamente, nos caminhos e surpresas que a vida nos traz, além de jornalista, queria ser um profissional ligado a música, um músico ou um dançarino. Minha paixão pela música sempre foi muito marcante em minha vida, tocando alguns anos piano e depois atuando como DJ. Era o sonho de minha vida. Um dia, procurando melhorar minhas habilidades, pedi a minha mãe que me trouxesse um teclado da Europa, numa de suas viagens. Imagine agora, que cômico, se sua mãe lhe trouxesse de uma viagem um teclado na mala apenas porque você quer se tornar um músico. Ela chegou de viagem com um presente um tanto quanto diferente, uma máquina fotográfica Minolta.

“Olhei para aquilo com desconfiança e desdém. “Uma máquina fotográfica? Mas o que eu vou fazer com uma máquina fotográfica?” Minha relação de amor e ódio com aquela caixa preta foi gradativamente se transformando em menos ódio e mais amor na medida que os anos se passaram. No início, tirava fotos por tirar, sem me importar muito com os resultados, e sem desfrutar dos recursos infinitos que as máquinas de lente intercambiável proporcionam. Sim, porque uma vez me disseram que o violão é o instrumento mais fácil para se errar. Assim também é uma máquina fotográfica com lente intercambiável, com seus numerosos recursos.

“Insistindo muito ainda na minha carreira como músico, uma vez resolvi tentar entrar para um coral. Durante o teste, o maestro me reportou que minha voz estaria mais para baixo. Falei para ele que achava melhor se eu fosse um tenor, ao que ele me retrucou que se ele pudesse também seria um jogador de futebol. Pensei comigo, um jogador de futebol? A última coisa da minha vida que eu queria ser era um jogador de futebol. Estava diante de uma pessoa que era tudo o que eu queria, mas que queria ser o que eu menos queria ser. Aquilo foi uma grande lição para mim. Hoje estou muito satisfeito com as imagens, fotografando os sons das cores.

“Se fotografia é luz, tudo começou a ficar literalmente claro alguns anos depois que ganhei a máquina quando fui para um belíssimo parque ecológico próximo a Juiz de Fora. Nesse mesmo ano tive a oportunidade de voltar à Chapada dos Veadeiros, desta vez com a máquina. Foi nesses dois parques ecológicos que a carreira se iniciou. Não tinha noção de minha aptidão, embora não costumo muito acreditar em dom puro ou nato. Não sabia que tinha uma visão elaborada para composição de cenas. Eu devo à natureza a história do início de minha carreira, ainda que eu tenha a compreensão de que a natureza humana esteja inserida no meio ambiente como um todo

“As fotos foram sendo cada vez mais elogiadas, e partindo-se para técnicas mais elaboradas, chegou-se a melhores resultados. Mas, o que torna um fotógrafo? E porque a fotografia é tão popular? Na minha visão a ótica do mundo faz um fotógrafo. O que o fotógrafo espera do mundo faz o fotógrafo. Se o fotógrafo enxerga apenas a simples beleza, ele será um fotógrafo da moda, um especialista. Se ele enxerga o mundo como várias partes de um todo, buscando a beleza simples, ele será um fotojornalista, fotografando o cotidiano. Se ele escuta o movimento das plantas e o rugir dos pumas, ele fotografará a natureza. Talvez a fotografia seja tão popular porque na verdade nós seres humanos temos medo da morte, do vir além, por isso seja mais fácil aceitar o presente congelado.

“Aceitando o presente congelado, minha experiência tem sido trabalhar como fotojornalista ambiental e social, e depois, desde Viçosa, a fotografia científica, tendo sido estágiário/técnico do Laboratório de Fotografia Científica do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Viçosa. Em 2002 me profissionalizei através do Sindicato dos Fotógrafos de Viçosa e em 2005 me sindicalizei.

“É preciso ter um olhar crítico para ser fotógrafo, mas isso não quer dizer que o olhar crítico faz do fotógrafo uma pessoa crítica com o mundo, mas com certeza com o universo ao seu redor, seja ele pequeno ou grande. Uma coisa é fato, as sucessivas invenções e descobertas da fotografia foram realizadas por gênios. Para ser um gênio basta não se conformar com a realidade. Um gênio é aquele que por exemplo olha para o cimento e o re-enxerga com curvas. Ou é aquele que olha para um disco de vinil e uma agulha de um toca discos e gira o disco ao contrário, produzindo uma nova música, um novo efeito, porque ele simplesmente não se conformou com o disco girando apenas para um lado. Ser um gênio significa simplesmente não se conformar com a realidade ao seu redor e produzir algo novo.
Esse conceito porém pode ser bastante limitador e os gênios bastante egoístas quando acham que seu trabalho é único ou quantos os idolatramos de uma forma excessiva. Há também uma falsa idéia do que é ser um gênio, e esse conceito deve ser compreendido de uma forma mais simples.

“A Missão— Na infância, fui acostumado a assistir aos programas de Jacques Cousteau*, cuja dedicação à ciência e à comunicação resultaram num dos maiores documentaristas acerca dos problemas pelos quais passa nosso planeta. Na época Cousteau foi muito criticado pelos cientistas por realizar filmes sobre ciência, popularizando-a. Seus críticos diziam que ele estava vulgarizando a ciência. De fato, para a população entender a ciência, a linguagem e os métodos científicos tem de ser muito simplificados. Desde cedo me perguntei porque não conseguia me formar em música ou comunicação. Hoje entendo que diante da megabiodiversidade do Brasil e os conflitos sociais há uma grande missão pela frente, tornar a ciência popular no Brasil, através da fotografia, disseminando o conceito de sustentabilidade e lutando contra os abusos do agronegócio e o extrativismo predatório. José Lutzemberg vive em nossas mentes, e até o fim de minha vida prometo lutar pelo primeiro regime verde do mundo.

“A Missão II— Uma vez consolidada minha carreira como fotógrafo, após terminar de pagar minha atual máquina fotográfica e montado meu estúdio fotográfico, a agência de crítica ambiental estará montada, objetivo adquirir duas câmeras de vídeo para filmar documentários. Atualmente tenho vários projetos cintematográficos em minha mente, alguns dos quais são bastante contemporâneos. Alguns já começam a se perder pelo limite do tempo das pessoas.

11 julho 2007

Sonho

Alguém já sonhou?
Sonho


Uma estrada,

uma casa.

Em cada asa

da escada,

um rato

um queijo

num beijo

de um gato.

Ustede

Más un poemito, com licença poética
para usar errado o espanhol. Não
façam isso viram?


Ustede


Teus olhos delineados

na busca mais simplória

do infinito


Encontraram um herói

na história de sua tragédia


Certificado que a escola da vida

lhe proporcionou


D' encontrar ustede.


O dia em que o professor quase virou suco nas terras do Shao Lin genial

Seguindo as aventuras d"o professor pobre", que já foram publicadas mais abaixo, as crônicas da época em que eu era professor na Faculdade Objetivo para a disciplina de Botânica aplicada a Farmácia, em 1999, e meu contracheque eram ridículos 200 reais e os alunos pagavam cada 714 reais e a sala tinha 30 alunos. Ok, chega! Vamos à crônica. Qualquer coincidência é mera coisificação merística. (Ah, os erros são propositais, pois o professor não tinha muito dinheiro para investir em alimentação e cultura).

O dia em que o professor quase virou suco nas terras do Shao Lin genial*
J Philippe Bucher

Assim não dá. Nem fumando cigarro de tarja preta. A gente estuda uns vinte anos, vai se especializando, se especializa, e vai até se especializando, trabalha o dia inteirinho, se prepara para dar a aula, pra chegar na sala de aula e... só tem dois alunos. A turma tem trinta e oito, a aula começa seis e meia em ponto mas é sempre assim, vão chegando a prestação. O pior é que muitos trabalham durante o dia e muitos só chegam atrasados. Mas a gente caça o que fazer. Dá tempo pra escrever no quadro, e, até rever de novo a matéria, ver se a letra ficou boa, dar uns retoques aqui, ali, ajeita acolá e coisa e tal, e ainda bater um papinho com os estudantes. Falar das novi, todos agora empolgadíssimos. Hoje é dia até de prática. Hoje só não, todos os dias tem prática. Quer dizer, prática na teoria. Prática. Dia de sofrimento. Farto material com muita criatividade de troca: o de ontem você usa hoje, o de anteontem, que é o mesmo de ontem, você usa amanhã. Prática na teoria. Essa é ótima. Mas vamos lecionar.
Começam a surgir alguns alunos. Aqui, ali, chegou mais um. Mais dois. Saiu mais três. Foram beber água e passar na direção e também conferir a nota do professor tal. Justíssimo, afinal o intervalo foi feito para fazer outras coisas. Olha, acho que tá bom, chegou mais uns, e, agora dá pra começar a aula. Viro para o quadro, e tempos modernos Bamerindus, ligo a caneta laser, ajustando para o modo menos barulhento, sei lá né, vai que pega fogo. Começo a falar. Vacúolos, mitocôndrias, parênquima, câmbio vascular. Uma aluna me interrompe. Fico lisonjeado. Vão perguntar sobre a matéria, primeira dúvida da semana.—“Professor!” “Tem gente te chamando na porta.” Nada de dúvida. Alguém me chamando. Quem seria. Caras? Ricos e famosos? Manchete? Veja? Fui ver o que era. Era um funcionário, a direção me chamava para depois, na hora do intervalo, um bate-papo. Só porque sou pobre. Logo eu, que não fiz nada. Talvez um lapso meu. Colapso total. Fiquei com medo, tenho problema de coração, pressão alta, coronária, hipertensão, não posso assim, de repente com emoções fortes. Não deu pra comprar o remédio há mais de um mês. O remédio era ir lá. Logo na hora dos biscoitos da sala dos professores.
Muitas palavras científicas e cochilos ou fofocas depois, e jack sou brasileiro fui lá, na tal da direção. Era indo logo ali, bem ali, ali pra lá. O que será que queriam comigo? A Direção? Logo a direção? Certamente era o novo Diretor que queria alguma coisa. Falavam que ele era o filho da dona Canô, a irmã do Neco, vizinhos do seu Zezé, aquele que cunhava o alforde da infantaria, bem ele que tinha aquela filha bonita, a Jacinta. Pois bem, feita a apresentação, no meio do caminho fui sentindo cheiro de macaco morto a tapa.
Cheguei. Sentei. Na ante-sala é claro, com as sempre simpáticas secretárias. O diretor-geral é muito ocupado sabem. Parece que agora é um novo. Diziam as más línguas que o anterior ganhava rios de dinheiro. Saiu um moço, entrou outro, me falaram para esperar um pouco. Agora sim, pode entrar. Nossa, que finesse de sala. Parecia ainda mais bonita que da última vez. Entrei pinga, saí Whisky. Sentei. Estava mexendo no computador, num tal de orçamento. Tinha esquecido que estava com uma vontade danada de ir ao banheiro, e, não agüentei. —“Será que... ...daria pra eu ir no banheiro agora...?” —“Claro, por aquela porta.”, apontando, sem virar para mim, num murmúrio quase monossilábico. Fui. Aliás, que chiquerrésimo, uma sala de escritório com um banheiro dentro. Quero dizer, acoplado, claro. Nunca poderia ter percebido, parecia um armário embutido. Fui, e só fiz isto, não aquilo. Puxa vida, estava apertado. Essa época de frio e ainda mais de noite, a gente tem mais vontade de ir mais no banheiro. Apertei a descarga. Droga, não funcionou. Essas coisas só acontecem comigo. Só porque sou pobre. A marca da descarga, suíça javanesa legítima, tinha que não funcionar justamente comigo. Tudo bem que só fiz isso, não aquilo, mas era chato do mesmo jeito. Pensei sobre a reclamação das mulheres que depois que se casam reclamam dos maridos que nunca dão a descarga direito. Baixei a tampa vagarosamente e girei a torneira dourada ao máximo, quem sabe substituía o barulho da tampa.
Voltei para meu lugar. Parece que ele não percebeu nada. O diretor continuava frente ao computador, mais ainda ainda mais muito mais inerte com o tal do orçamento. Passei a olhar em volta da sala. Havia muitos quadros bonitos. Um me chamou a atenção, um pôster branco e preto muito bonito do Sebastião Salgado. Sebastião Salgado? Não menino, do Miró. Preciso trocar as lentes, fazia quatro anos a última visita ao oculista, o convênio acabou.
Tinha também uma bela gardênia no parapeito da janela. Lembrei de uma história de um professor antigo da escola, que dizia que um sujeito havia colocado em seu jardim o seguinte aviso, com o intuito de protegê-las, “Cuidado! Hidrangias no jardim”, acabando por espantar pessoas indesejáveis. O incauto ladrão poderia pensar sobre o mais terrível animal correndo-lhe atrás, sem imaginar que se tratava de indefesas gardênias referidas cientificamente.
Descompressurizado que estava, de repente quase que pulando da cadeira, tomei um susto, o diretor virou-se para mim. Olhou bem fundo no branco dos meus olhos, e gritou: —“JOÃO, TRAGA CÁ UM COPO DE ÁGUA PRA NÓS DOIS." Estremeci, pensei. Na última, e única vez que conversei com o diretor anterior, foi muito bom. Apresentou-se a mim, apresentou mais o superintendente, o tal que tinha uma mesa ao lado, hoje nem estava lá, mais um intendente das quantas que não me lembro, outro lá dos quintos e disse que estava muito feliz de ter mais um professor na área de biologia na faculdade, que a outra professora que estava substituindo era meio estressada, que sua esposa também era formada em biologia, que era uma área muito bonita, muito promissora, o Brasil é o país do futuro, viva o país. Ainda falou de coisas muito bonitas, como o céu, a terra, a água e principalmente o ar, como a importante compra de umas ripas de madeira para montar as exsicatas de botânica, sem o aparelho de secar, sem o armário para guardar as plantas, sem a horta de plantas medicinais para estudo e sem lâminas de microscópio para as aulas práticas. Santa Bortolina. O que ele queria agora. O que que eu fiz. Vai ver foi o passeio científico com os alunos, que não foi quase ninguém. A porta se abriu de repente. Caras? Coroas? Ricos e famosos? Manchete? A revista Playboy? Eram as águas. —“Professor, estamos com um problema de um professor que teve que sair da faculdade e gostaríamos que você o substituísse por um tempo até que arrumemos outro, se você puder é claro.” —“Ah, sim, compreendo.” Compreendi mas não entendi. Por que entravam e saiam tantos professores na Faculdade? Olha, ali já vai um passando pela janela, com o contracheque na mão. Passou mais outro novato. O pior é que cada ano que passa, mais cursos estão se abrindo, mais turmas estão entrando, e as primeiras turmas inaugurais só se formam daqui a cinco anos, se não repetirem, nunca se sabe. Para estacionar na faculdade tem que chegar umas três da tarde. Ontem por exemplo, estacionei lá perto do cemitério e vim andando. Não entro no estacionamento reservado pela vergonha. O carro, um fusca 66, vive dando problemas. Hoje foi na manoela do câmbio, um custo pra pegar. Com todas estas mazelas, pensei muito. Pensei, repensei, trepensei, e refleti. Aceitei. Estava precisando de dinheiro, claro que, só para variar um pouquinho. Precisava preparar meu futuro, arrumando as dívidas do passado. Era bom continuar com minha carreira acadêmica, nem que meu filho nasça com cara de pastel. Um momento. Eu disse cara, não jeito.
Afinal foram anos freqüentando a mundialmente famosa, simpática e bem freqüentada pastelaria Viçosa, na rodoviária. Claro que uma vez no mês a gente se dá ao luxo de ir comprar um saboroso, único, inesquecível e nutritivo McChicken, provavelmente feito pelas mãos prendadas de uma Mcvelha. Ai que saudades da comida da vovó. O salário mensal poderia comprar vinte e oito Mchambúrgeres, com uma das Mcatendentes, no Mcsalão, após ter estacionado o carro no Mcestacionamento. Claro, sem a sobremesa, vamos cortar despesas. Com todas essas divagações ainda cheguei a falar sobre o material das aulas práticas, que estava escasso, que era preciso comprar mais, investir na educação, as aulas práticas estavam difíceis, era difícil explicar teoria sem prática, mas, disse que era complicado e essas coisas são caras, tem um custo alto, demoram pra chegar, as coisas não são bem assim, que estava sendo muito rebelde e revolucionário, muito tóchico na cabeça e me aconselhou a rezar um terço e confessar na capela da faculdade. Claro que fui no dia seguinte, com essas coisas não se brinca. O pior é que foi bem na hora que o intendente chegou na mesa da frente. Logo ele que, diziam, era primo do coronel. Morro de medo dessa gente, é melhor não facilitar. Tenho filho pra criar, ainda que sei lá quando. E depois, pegando mais uma aula, subindo de quarenta e oito para quarenta e nove aulas semanais, quem sabe poderia finalmente concretizar o velho sonho de trocar o fusca 66 por um 67, até que enfim. E assim caminha a humanidade.

Observações:
· não sei como está hoje, mas em 1999 um professor de nível superior cursando mestrado lecionando 10 horas por mês ganhava 200 reais na Faculdade Objetivo de Brasília, sendo que os alunos pagavam 714 reais de mensalidade, as salas geralmente continham mais de 35 alunos, e ainda assim tínhamos que conseguir material para aulas práticas por conta própria.
· a crônica está cheia de erros, na maioria propositais por questão de estilo de fluido de pensamento.
· “Diziam as más línguas que o antigo diretor ganhava rios de dinheiro”— Rios, era o sobrenome do antigo diretor.
· “...Shao Lin genial”, o dono de todo ensino Objetivo chama-se Digênio
· aceito crônicas sob encomendas haha

Erros propositais:
- a gente caça o que fazer.
- Saiu mais três. (saíram mais três)
- acho que tá bom (está)
- “Jack sou brasileiro”- paródia e homenagem à música de Lenine
- chiquerrésimo
- fazia quatro anos a última visita (haviam quatro...)
- O que que eu fiz. (repetição)
- a gente se dá ao luxo (nos damos ao...)
- manoela do câmbio- tecnicamente, a porca do rebite retangular que fica embaixo do cambio, para dar sustentação a manivela do eixo de rotação.